sexta-feira, 19 de junho de 2009

Autonomo


A Nação sempre grandiosa em seus projetos paralelos não é mesmo?


Resolvi postar sobre o Autonomo, projeto do Sr. Jorge Du Peixe, solo porém com grandes participações, e ainda instrumental, com referências sampleadas , alterações sonoras e metais.


Melhor não tentar definir com palavras o que os sentidos auditivos podem perceber.


África e Sertão


África e Sertão: à Maneira de um Manifesto

Por Micheliny Verunschk


Tomamos a África pela mão direita e o Sertão pela mão esquerda.

Ela, nossa mãe desconhecida.Ele, nosso pai imaginário.

Dos berberes e soninkés é nossa carne de areia.

Dos vaqueiros encourados é nosso sangue mais denso que o real.

Nossa mãe multiplica sua face no sexo das meninas violadas, infibuladas,prostituídas.

Nosso pai multiplica seu coração no peito dos meninos abandonados,alcoolizados, à margem da margem de um rio seco e pedregoso ao qual chamamosde História.

Nossa mãe tem os olhos do céu de Moçambique.

Nosso pai tem a pele do poente do Moxotó.

Declaramos que nossa mãe está na fala, no sabor, na dança e na música quenos move a alma.

Declaramos que ela é múltipla e única, terrível e bela.

Mas não a conhecemos senão pela História, que é sempre parcial, pelasestatísticas que são sempre sem rosto ou peso de carne humana,

pelo olhofotográfico que ousa nos dar a cara do nosso tempo mas que nem sempre revelaque um ponto de vista pode ser também uma trave que nos impede a visão.

Declaramos que nosso pai está no esqueleto de concreto de toda cidade dessepaís, que sua fala acentuada é a marca de nossa memória,

que sua coragem é oterritório ao qual ainda não nos aventuramos por completo.

Nosso pai e seu rosto ainda por se construir.

Nosso pai e seus mitos por seconfirmar.

Nossa mãe e nosso pai ainda mal contados, mal traçados, e ainda que amados,tão mal-amados.

Nossa mãe e nosso pai, tanto sol, tanta escuridão.

África e Sertão, de mãos dadas.

Tão pobres.

Tão ricos.

Tão distantes.

Tão unidos.

Na mina que explode, no vírus que explode, na fome que explode.

Na beleza que é potência, na vastidão que é potência, no vir-a ser que épotência.

África e Sertão.

Minha mãe, meu pai.

Tua mãe, teu pai.

Nossa mãe, nosso pai.

África e Sertão.

Terra prometida.

Colo desejado.

Expectativa.